SUSTENTABILIDADE
Hortas e compostagem ganham espaço nos grandes centros reduzindo o gasto com a compra de alimentos
Por Helena Gomes de Oliveira
Quando os pais da minha mãe aportaram no porto de Santos, em 1945, nascia as margens do Rio Tamanduateí (rio que corta a Região Metropolitana de São Paulo) mais uma horta em São Paulo. Amparados por imigrantes que já ocupavam as margens dos rios e viviam da produção de hortifrutigranjeiros vendidos à população elitizada de São Paulo entre as décadas de 40 e 50.
Iniciavam assim a sobrevivência numa terra distante, cultivando vegetais, frutas e verduras, para abastecer a cidade que avançava a passos largos para o processo de industrialização, ao mesmo tempo que mixava experiências culturais de hábitos e costumes, presente também na alimentação.
Se havia xenofobia na época eu não sei. A palavra era desconhecida. Brincava com os filhos de italianos, lituanos, espanhóis e migrantes nordestinos que também certamente desconheciam o termo e que, por isso mesmo descobriam novas brincadeiras e curiosidades todos os dias.
A necessidade pedia uma sociedade plural e falava diferentes idiomas, pouco remunerada e que compunha a renda familiar nas chácaras.
Enquanto meus avós alternavam culturas em poucos metros quadrados, como almeirão, couve, escarola, catalonia, salsinha, tomate, alface e morango, meu primo e eu, insistíamos em confeccionar espadas de madeira para tal qual D. Quixote e Sancho Pança, destruir moinhos de vento, encarnados em parreiras e figueiras, tão reverenciadas pelo meu avô, que não entendia aquele movimento destrutivo e devastador.
Enquanto isso, minha mãe e minhas tias ofereciam à famílias abastadas, nos grandes casarões da elite paulistana quatrocentona o alimento do dia a dia e ganhavam seus tostões, com o que pagavam as contas e garantiam o sustento lá de casa.
Nesses pequenos metros, crescia junto com o alimento a dignidade. Por mais devastador que isso possa nos parecer tais experiências de um passado, que insiste em se repetir de tempos em tempos, jamais deixam de mostrar ganhos futuros.
Voltando a história da tradicional família portuguesa, além da horta, lembro da compostagem, que a pouca informação ainda não sabia tratar-se de uma forma de reciclagem de matéria orgânica, que a família já fazia desde o além-mar e com a qual produzia potente fertilizante a custo zero. No baldinho sobre a pia, eram atiradas todas as cascas de frutas, ovos, legumes que não podiam ser mesmo aproveitados como alimento, já que tortas, bolos, sucos entre outras especiarias daí surgiam, fazendo a família lamber os beiços. Era assim não só com a comida, como roupas e outros objetos que iam ganhando novas formas e utilização ampla e generalizada.
Aonde quero chegar com a história da minha família? O que têm em comum as hortas comunitárias (verticais ou horizontais) tão alardeadas pela mídia com as experiências migratórias desde o início do século XIX para a América? O que tem a ver reciclagem, cultivo de hortas comunitárias, compostagem com a guerra e a fome que ameaça a subsistência dos refugiados da Ucrânia e o avanço inflacionário em diferentes partes do mundo desde então?Aqui no Brasil quase totalmente dependente do fornecimento de fertilizantes da Rússia e do trigo da Ucrânia.
Não se sabe ao certo quantas são, mas já se sabe passam de centenas, algumas com um caráter mais social de produzir alimentos saudáveis ou gerar renda para quem há muito já foi esquecido pelo mercado de trabalho e como mote contra desigualdades estruturais.
E outras, instaladas em bairros de classe média, possuem valor mais simbólico de resistência à frenética urbanização da cidade e mostram uma nova relação de consumo com o alimento.
No que diz respeito à minha infância, não era todos os dias que tínhamos carne na mesa. Muitas vezes a mistura era apenas salada ou verdura refogada fonte de proteína e ferro. Sem saber estávamos mais uma vez inovando ao incentivar a educação alimentar, olhando para trás e lembrando da memória afetiva das antigas gerações.
Estas hortas comunitárias vão surgindo cada vez mais nesta São Paulo, maior metrópole brasileira, com cerca de 12,3 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE de 2021 – distribuídas numa área de 1.521 quilômetros quadrados. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, da Prefeitura de São Paulo, registra atualmente 103 hortas urbanas na capital paulista. É caminho para redução de atravessadores que encarecem ainda mais o processo de produção e comercialização dos hortifrutis, que chegam aos feirantes e comerciantes e finalmente à mesa do brasileiro contaminados pela carestia, que tem o nome chique de inflação.
Para terminar, é vital lembrar uma frase tão repetida por minha sabia vozinha e fazer entender as gerações futuras: nesse mundo nada se cria, mas tudo se transforma. Aprendamos com o passado para transformar o futuro.
FAÇA UMA HORTA VOCÊ MESMO!
Escolha bem o local. Valorize onde o sol está presente. É importante que a área não alague. Não fique perto de esgotos e áreas de contaminação. Utilize tijolos, pedras e madeira para deixar os canteiros bem organizados. Vasos e floreiras são locais onde também se pode alternar culturas.
Prepare a terra o solo deve ser fofo para possibilitar a absorção de nutrientes. Deve ficar úmido sem ficar encharcado. Lembre-se da compostagem. Você pode usar adubos feitos com lixo orgânico.
PLANTE
Você deve escolher o que vai plantar de acordo com o que gosta de comer e se adapta às características de cada terreno. Para distribuir as sementes, faça sulcos na terra e lembre-se de deixar espaço entre os canteiros. Faça rotação de culturas, ou seja, plante duas safras no mesmo canteiro alternadamente.
Faça a manutenção do terreno. Ela é feita: limpando, controlando pragas e adubando.
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